Quando suspeitar de infecção profunda no pós-operatório de cirurgia cardíaca?
Atualizado: 2 de out. de 2023
A classificação topográfica de infecção (superficial, profunda e de órgão e cavidades), na parede torácica se revela muitas vezes complexa, especialmente no pós-peratório de cirurgia cardíaca, onde os planos de divisão esternal e retroesternal (mediastino) são íntimos e de difícil definição ao exame físico.
Diferenciar a profundidade da infecção se faz importante, tendo em vista que os quadros de mediastinite ou osteomielite (plano profundo) irão requerer abordagem cirúrgica com debridamento.
Refletir e identificar alguns achados ao exame clínico que elevam o valor predito positivo para as infecções profundas (subcutâneo profundo , osteomielite ou mediastinite) e que usualmente não estão presentes em infecções superficiais, é mandatório para o adequado manejo do paciente.
Dessa forma, quando devemos desconfiar de infecção profunda/mediastinite no pós-operatório de cirurgia cardíaca ?
Abaixo irei descrever os principais achados encontrados nas infecções superficiais e profundas, conforme Robert M. Bojar em seu manual de cuidado peri-operatório.
Infecção superficial: principais achados:
Presença de estabilidade eternal
Flogose local
Drenagem serosa ou abcesso localizado na ferida operatória
Infecção profunda (subcutâneo profundo , osteomielite ou mediastinite): principais achados.
Febre , calafrio , letargia e dor na parede torácica
Drenagem significativa de secreção purulenta
Esterno instável
Maior probabilidade de ocorrer Leucocitose
Persistência da infecção hipoteticamente superficial ou múltiplas áreas de drenagem
Exposição dos fios de aço ou do esterno
Comentários & Dicas cirúrgicas:
Podemos notar que a avaliação do esterno é importante para desconfiar de infecção profunda e na hora de tomar conduta.
Se o esterno é instável, a exploração cirúrgica com debridamento é indicada
Se o esterno é estável, solicitar exames para avaliar infecção profunda
Realizar cultura sempre que possível para direcionar antibiótico.
Se o exame físico for inconclusivo e o esterno é estável, TC de tórax pode ser solicitada para avaliar infecções profundas.
Devemos tomar cuidado com a interpretação da TC de tórax, pois pacientes em pós-operatório recente tendem a ter hematoma e fibrina ao longo do espaço restroesternal, que podem ser confundidos com infecção.
Os exames de tomografia realizados até o 15º dia da cirurgia apresentam baixa especificidade, em razão do curto tempo pós-operatório.
Sempre correlacionar os achados com a clínica do paciente.
Referências
1.. Manual of Perioperative Care in Adult Cardiac Surgery, 5th Edition
2. MACEDO, Clarissa Aguiar de et al . Mediastinite aguda: aspectos de imagem pós-cirurgias cardíacas na tomografia computadorizada de multidetectores. Radiol Bras, São Paulo , v. 41, n. 4, p. 269-273, Aug. 2008 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-39842008000400014&lng=en&nrm=iso>. access on 01 Sept. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-39842008000400014.