Videoaula sobre Persistência do canal arterial: da anatomia à estratégia cirúrgica (PARTE 01)
Atualizado: 15 de mar. de 2021
A persistência do canal arterial (PCA) é uma condição potencialmente fatal que usualmente requer tratamento cirúrgico. A cirurgia que por muitos é considerada relativamente simples possui complicações graves, podendo se tornar um verdadeiro inferno se o cirurgião não tiver experiência na patologia.
Levando-se em conta que a incidência de PCA é razoável na população, avaliações de indicações cirúrgicas serão comuns no cotidiano do cirurgião cardiovascular. Dessa forma é muito importante o residente e o cirurgião estarem atentos as variáveis clínicas que irão influenciar na indicação e estratégia operatória de forma que a melhor conduta seja feita e a possibilidade de complicações sejam minimizadas.
Esta primeiro parte da vídeo-aula sobre Persistência do canal arterial foca nas principais variáveis anatômicas e clínicas que são importantes para o cirurgião e irão influenciar na indicação cirúrgica discutindo também o que as diretrizes de cardiopatia congênita falam a respeito do tema.
A segunda parte da vídeo-aula que iremos divulgar no próximo domingo terá como enfoque somente a estratégia cirúrgica e técnica operatória.
Abaixo segue um RESUMÃO da parte 01 da vídeo-aula que serve como itinerário para a mesma além de possuir alguns detalhes adicionais de maneira a complementar o conteúdo do vídeo.
Persistência do canal arterial: da anatomia à estratégia cirúrgica
Incidência
1 a cada 2000 nascidos vivos
maior incidência em mães com historia de rubeola
Geralmente se fecha em 2 estágios no período pós-natal
10-15 horas: contração da musculatura lisa
2-3 sem: proliferação fibrosa da camada íntima
Journal.pone.0023975.g001.jpg doi:10.1371/journal.pone.0023975.g001
O fechamento é acompanhado por uma série de alterações histológicas:
1) separação das células endoteliais da lâmina elástica interna
2) crescimento de células endoteliais e migração de células musculares lisas do meio interno para a região subendotelial;
3) aposição de células endoteliais que limitam o lúmen;
4) alterações degenerativas.
No ducto arterioso persistente (sinônimo de PCA), essas alterações não ocorrem.
As células endoteliais permanecem estreitamente aderidas à lâmina elástica interna e o meio subjacente é de estrutura anormal.
Substâncias mediadoras
Para manter a Patência do canal
Mediado pelas prostaglandinas
Relaxador da musculatura lisa
Nos prematuros o uso de AINE (indometacina) visa reduzir as prostaglandinas para fechar o PCA.
Se quiser mantê-lo aberto, usar o Prostin (nome comercial da Prostaglandina endovenosa)
Fechamento
Mediado pela PaO2
O oxigênio tem efeito vasoconstrictor
Fechamento espontâneo é comum em prematuros
porém após 3 meses de vida é raro
Riscos da PCA
ICC - HIPERFLUXO PULMONAR
Endocardite do Canal
Hipertensão pulmonar
Mortalidade nos pacientes sintomáticos se não operados
30% no primeiro ano
modo de morte
Insuficiência cardíaca - primeira causa
Hipertensão arterial pulmonar (HAP)
Pneumonia - menos comum
Endocardite - raro
Após o primeiro ano a mortalidade cai bastante com media de 0,5% por ano.
acima da 3 década volta a aumentar
60% morreram até os 65 anos
devido a insuficiência ventricular esquerda gerada pela sobrecarga de volume crônica.
Keys e Shapiro, em 1943, realizaram revisão de todos os casos relatados de canais arteriosos persistentes - visão mais assustadora.
80% dos pacientes faleceram em consequência de suas lesões cardíacas, com idade média de 35 anos.
Indicação de cirurgia
Perguntas que devem ser feitas
Tem sintomas ?
Há defeitos associados ?
O canal é grande ?
Tem sinais de repercussão hemodinâmica ?
Qual o nível de Hipertensão pulmonar ?
Silva LPRG, Bembom MC, Silva MFAG, Silva PAG. Persistência do canal arterial. ln: Croti UA, Mattos SS, Pinto Jr. VC, Aiello VD, Moreira VM. Cardiologia e cirurgia cardiovascular pediátrica. 2a ed. São Paulo:Roca;2012. p. 661-72.
Após indicação, Quando operar ?
< 1 mês se ICC descompensada
1 - 6 meses apenas nos sintomáticos
Ou seja, na ausência de sintomas a cirurgia deve ser postergada para após o sexto mês. Porém a cirurgia é indicada a qualquer momento em que houver sintomas de ICC.
Referência dessa conduta: Kirklin
> 6 meses
Operação eletiva indicada
Prematuros refratários ao manejo clínico (Indometacina)
Ideal operar abaixo de 1 anos
Quanto menor a idade, mais fácil de operar.
Pacientes mais velhos, principalmente adultos podem ter o canal rígido ou calcificado, gerando mais risco de ruptura durante o ato operatório
Sinais de repercussão hemodiâmica - Relação AE/Ao > 1,5
A dilatação do AE ocorre por aumento do retorno venoso
Quando há aumento dessa relação, denota sobrecarga de AE e hiperfluxo pulmonar
European Heart Journal (2010) 31, 2915–2957 doi:10.1093/eurheartj/ehq249
Stout KK, et al. 2018 ACHD Guideline
Contra-indicação a cirurgia
Hipertensão pulmonar severa (pressão pulmonar ou resistência vascular pulmonar 2/3 maior que a sistêmica com shunt esquerda-direita)
Eisenmenger
Canal arterial silencioso, muito pequeno e sem repercussão hemodinâmica.
Referências
Journal.pone.0023975.g001.jpg doi:10.1371/journal.pone.0023975.g001
Stout KK, et al. 2018 ACHD Guideline
European Heart Journal (2010) 31, 2915–2957 doi:10.1093/eurheartj/ehq249
Silva LPRG, Bembom MC, Silva MFAG, Silva PAG. Persistência do canal arterial. ln: Croti UA, Mattos SS, Pinto Jr. VC, Aiello VD, Moreira VM. Cardiologia e cirurgia cardiovascular pediátrica. 2a ed. São Paulo:Roca;2012. p. 661-72.
Kirklin/Barratt-Boyes Cardiac Surgery. 4th edition
Khonsari, Cardiac Surgery. Safeguards and Pitfalls in Operative Technique 5 ed. Philadelphia 2017.