05 dicas para identificar a falsa luz da aorta dissecada na tomografia com contraste
Na dissecção da aorta, condição onde teremos a delaminação das camadas da aorta, um dos fundamentos para o diagnóstico e tratamento é saber analisar a tomografia computadorizada com contraste.
Perceber que existe dissecção aguda da aorta na tomografia não é tão difícil. Entretanto, no começo do aprendizado erramos na diferenciação entre a luz verdadeira e a falsa.
É importante diferenciar a luz verdadeira da falsa pelos seguintes motivos:
Para identificar possíveis complicações da dissecção da aorta relacionadas a isquemia regional, é preciso saber se de fato é a luz falsa que está comprimindo a verdadeira do vaso. Não é difícil ouvir em discussões clínicas alguém falar que a luz com maior diâmetro é a verdadeira e, perante isso, minimizar a possibilidade de isquemia em determinado órgão (isquemia mesentérica, por exemplo).
Para determinar a complexidade da doença e planejar uma intervenção na aorta dissecada, seja ele endovascular ou convencional, é necessário topografar quais ramos da aorta estão dissecados e se a sua origem se dá a partir da luz falsa ou da verdadeira.
Posto isso, irei pontuar 05 dicas para identificar a falsa luz na tomografia computadorizada:
1) A falsa luz geralmente é a maior devido a persistência da pressão sistólica naquele compartimento
Um grande erro é achar que a luz verdadeira sempre será aquela que tem o maior diâmetro. Muitas vezes a falsa luz "empurra" a verdadeira ao ponto de causar obstrução total do fluxo de determinado vaso e consequente isquemia.
A primeira parte do vídeo mostra a tomografia de um caso de dissecção da aorta do Tipo B operado pelo professor Estevan Letti, cirurgião cardiovascular do Hospital São Francisco (Santa Casa de Porto Alegre) . Observem nas imagens do exame como a luz falsa comprime a luz verdadeira ao ponto de quase obstruí-la por completo.
Fonte: Própria (2019)
Angiotomografia mostrando a falsa luz (seta amarela) comprimindo a luz verdadeira.
Fonte: Referência 01
2) Sinal do Bico (Beak Sign):
O sinal do bico faz referência ao retalho em forma de cunha (bico) que se projeta nas margens da luz verdadeira quando estudamos a angiotomografia no corte transversal. Esse sinal nada mais é que a propagação da dissecção que pode se tornar circunferencial.
Fonte: Referência 02
3) Sinal da biruta (Windsock sign):
Quando a dissecção provoca delaminação de toda a circunferência do vaso, a falsa luz fica em torno da verdadeira. A imagem fica semelhante a uma biruta (aquela bolsa cônica que indica a direção do vento).
Fonte: Referência 01
4) Realce tardio do contraste devido ao fluxo mais lento
Observem que a falsa luz na fase arterial da angiotomografia (imagem superior) usualmente se apresenta menos densa em comparação à luz verdadeira, devido ao seu menor fluxo. Entretanto, na fase tardia ela irá se apresentar realçada por conta do menor escoamento do contraste (imagem inferior).
Fonte: Referência 01
5) Sinal da teia de aranha (Cobweb sign):
O sinal da teia de aranha faz alusão aos fragmentos da camada íntima que se projetam para a falsa luz, que se assemelham a uma teia. A presença da "teia" usualmente identifica a falsa luz.
Fonte: Referência 03
Não ta afim de ler ? veja o vídeo comentando brevemente a postagem !
Referências:
1. http://dx.doi:10.1594/ecr2014/C-2221
2. Gutschow, Susan & Walker, Christopher & Martinez-Jimenez, Santiago & Rosado-de-Christenson, Melissa & Stowell, Justin & Kunin, Jeffrey. (2016). Emerging Concepts in Intramural Hematoma Imaging. Radiographics : a review publication of the Radiological Society of North America, Inc. 36. 660-674. 10.1148/rg.2016150094.
3. Yudin A. (2014) Cobweb Sign and Mercedes-Benz Sign. In: Metaphorical Signs in Computed Tomography of Chest and Abdomen. Springer, Cham