Blalock-Taussig clássico vs. modificado: indicações, vantagens e desvantagens
Atualizado: 15 de mar. de 2021
Imagens didáticas mostrando a anatomia normal, o shunt Blalock-Taussig clássico e o shunt Blalock-Taussig modificado.
O autor dos desenhos é o Cirurgião Cardiovascular Pediátrico Mansur Chaer Alameddin, atuante no Rio de Janeiro.
Clique na imagem para ampliar.
O tratamento cirúrgico paliativo da tetralogia de Fallot foi idealizado e realizado por Blalock e Taussig em 1945. O objetivo era simples: proporcionar aumento de fluxo sanguíneo pulmonar pela anastomose término-lateral entre a artéria subclávia direita e a artéria pulmonar direita.
Como discutimos no post "Shunt sistêmico-pulmonar: 04 conceitos básicos" (clique aqui), a idéia central do Blalock-Taussig é paliar cardiopatias congênitas cianogêticas com hipofluxo pulmonar. Outras indicações são:
Opção estratégica de manutenção do fluxo pulmonar na primeira etapa do procedimento de Norwood;
Estimular o crescimento das artérias pulmonares quando hipoplásicas;
Coronária aberrante (descendente anterior) que atravessa a via de saída do ventrículo direito (VD) no paciente com tetralogia de Fallot (incidência de 5%).
Nesses casos é muito difícil realizar a ampliação da via de saída do ventrículo direito, de forma que uma estratégia plausível é realizar um shunt sistêmico-pulmonar.
Observem que em todas as indicações acima o objetivo central (direto ou indireto) do shunt é aumentar o fluxo sanguíneo pulmonar.
Com o tempo, alguns cirurgiões passaram a modificar o "Blalock clássico" por meio do uso de tubos sintéticos (PTFE, por exemplo) para realização do procedimento. Esse avanço técnico trás uma série de vantagens, motivo pelo qual o Blalock-Taussig modificado se tornou rotineiro na maioria dos serviços.
Seguem abaixo as principais vantagens e desvantagens de cada técnica:
1. Blalock-Taussig clássico:
Anastomose término-lateral entre a artéria subclávia direita e a artéria pulmonar direita.
Vantagens:
Acompanha o crescimento dos vasos;
Pode ser feito extra pericárdio;
Raro ocorrer hiperfluxo pulmonar.
Desvantagens:
Maior taxa de distorção da artéria pulmonar. Isso pode ocorrer especialmente em casos onde há dificuldade de mobilização da artéria subclávia, particularmente quando é muito curta, o que pode ocasionar distorção dos vasos pulmonares;
Raro, mas pode ocorrer ocorrer isquemia e/ou retardo de crescimento do membro superior ipsilateral;
Maior risco de trombose, especialmente quando o calibre da subclávia é pequeno.
2. Blalock-Taussig modificado
Vídeo mostrando o aspecto cirúrgico do shunt Blalock-Taussig modificado (uso de tubo de PTFE)
Fonte: Própria.
Vantagens:
Permite maior desenvolvimento da circulação arterial pulmonar perante o maior fluxo;
Menor risco de distorção das artérias pulmonares;
Excelente patência (90% em 02 anos);
Facilidade técnica;
Menor área de dissecção;
Mantém a integridade da artéria subclávia, preservando fluxo para o membro;
Devantagens
Relatos de seroma (exsudato proveniente do PTFE);
Ocorrência de pseudoaneurisma;
A técnica exige um comprimento exato do tubo de PTFE - quando muito longo pode gerar distorções do tubo e/ou vaso pulmonar.
Referências:
1. Kiran U, Aggarwal S, Choudhary A, Uma B, Kapoor PM. The blalock and taussig shunt revisited. Ann Card Anaesth. 2017;20(3):323–330. doi:10.4103/aca.ACA_80_17
2 Croti UA, Mattos SS, Pinto Jr. VC,Aiello VD, Moreira VM. Cardiologia e cirurgia cardiovascular pediátrica. 2a ed. São Paulo:Roca;2012.
コメント