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Azul de Metileno em Cirurgias Cardíacas: A Solução para o Choque Vasoplégico?



O azul de metileno (AM) é uma substância bem conhecida na medicina por suas diversas aplicações. Originalmente usado como corante, o AM tem propriedades terapêuticas importantes. No nosso meio da cirurgia cardíaca, se destaca por sua capacidade de tratar o choque vasodilatador refratário, uma complicação grave que pode ocorrer após procedimentos cirúrgicos complexos. O AM atua bloqueando a produção de óxido nítrico (NO), bem conhecido como potente vasodilatador, ajudando a restaurar a pressão arterial em casos de hipotensão severa.


A vasoplegia, também chamada de choque vasoplégico ou síndrome vasoplégica, é uma condição caracterizada por uma vasodilatação exuberante e baixa resistência vascular, levando a uma queda perigosa da pressão arterial potencialmente refratária ou pouco responsiva aos medicamentos tradicionais. Este problema tem íntima relação com cirurgias cardíacas que utilizam circulação extracorpórea (CEC), que pode desencadear uma resposta inflamatória exuberante que resulta em vasoplegia.


Devido a essas propriedades, o AM tem sido utilizado off-label para tratar choque vasodilatador refratário em cirurgia cardíaca, especialmente em casos de choque séptico e após cirurgias cardíacas que evoluem com síndrome vasoplégica.


Análise do artigo “Methylene Blue Reduces Mortality in Critically Ill and Perioperative Patients - A Meta-Analysis of Randomized Trials”



Qual foi o objetivo do estudo?


Esta meta-análise teve como objetivo avaliar se o azul de metileno realmente reduz a mortalidade em pacientes criticamente doentes e no período perioperatório, analisando dados de ensaios clínicos randomizados. O estudo buscou entender se o AM poderia melhorar a sobrevivência e estabilizar parâmetros hemodinâmicos importantes em comparação com outros tratamentos ou placebo.


Qual método?


Foram revisados 11 estudos envolvendo 556 pacientes que receberam azul de metileno comparado com outros tratamentos. O principal critério de avaliação foi a mortalidade a longo prazo, enquanto parâmetros hemodinâmicos e disfunções orgânicas foram analisados como critérios secundários.


E os resultados?


Os resultados mostraram uma redução significativa na mortalidade dos pacientes que receberam AM (15%) em comparação com os que não receberam (25%). O uso de AM também aumentou a pressão arterial média e a resistência vascular sistêmica, sem afetar negativamente o débito cardíaco.

Na figura 2 do estudo, podemos notar que foi contemplano o subgrupo de pacientes submetidos a cirurgia cardíaca. Também é possível perceber as principais limitações deste estudo: o baixo número de trials randomizados disponíveis; o contexto clínico heterogêneo (isto é, cirurgia cardíaca, choque séptico e cirurgia não cardíaca) e, em sua maioria, eram ensaios unicêntricos com amostras pequenas.


Os pacientes tratados com AM tiveram menor tempo de internação na UTI e no hospital, o que impacta não só a mortalidade por desfechos secundários a uma internação mais prolongada como também em custo-efetividade.


O estudo conclui que o azul de metileno demonstrou ser eficaz na reversão da vasodilatação com melhoria na sobrevida dos pacientes analisados.. Esses achados sugerem que o AM pode ser uma opção terapêutica valiosa, especialmente para pacientes que cursam com choque vasoplégico após cirurgias cardíacas que envolvem circulação extracorpórea. No entanto, é necessário realizar mais estudos para confirmar plenamente esses benefícios.


Em resumo:

  • O azul de metileno pode ser a solução como terapia de resgate para choque vasoplégico ou síndrome vasoplégica resistente à cateolamina durante cirurgia cardíaca, embora não seja recomendado como terapia de primeira linha devido a evidências insuficientes.

  • Os resultados da meta-análise exposta na postagem (avaliou se o azul de metileno realmente reduz a mortalidade no peri-operatório) mostrou uma redução significativa na mortalidade, mas devemos se atentar as limitações do estudo.

  • Portanto, o AM deve ser considerado como uma possível terapia, entendendo-se que seu uso requer uma consideração cuidadosa do contexto clínico geral do paciente e dos riscos/benefícios potenciais.


Referência:

  1. Pruna, A., Bonaccorso, A., Belletti, A., et al. (2023). Methylene Blue Reduces Mortality in Critically Ill and Perioperative Patients: A Meta-Analysis of Randomized Trials. Journal of Cardiothoracic and Vascular Anesthesia. DOI: 10.1053/j.jvca.2023.09.037 Gabriel R. Bittencourt.

  2. Mehaffey JH, Johnston LE, Hawkins RB, Charles EJ, Yarboro L, Kern JA, Ailawadi G, Kron IL, Ghanta RK. Methylene Blue for Vasoplegic Syndrome After Cardiac Operation: Early Administration Improves Survival. Ann Thorac Surg. 2017 Jul;104(1):36-41. doi: 10.1016/j.athoracsur.2017.02.057. Epub 2017 May 24. PMID: 28551045; PMCID: PMC5523819.

  3. Maurin C, Portran P, Schweizer R, Allaouchiche B, Junot S, Jacquet-Lagrèze M, Fellahi JL. Effects of methylene blue on microcirculatory alterations following cardiac surgery: A prospective cohort study. Eur J Anaesthesiol. 2022 Apr 1;39(4):333-341. doi: 10.1097/EJA.0000000000001611. PMID: 34610607.

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