Quais são os fatores de risco de insuficiência renal aguda após cirurgia cardíaca?
A insuficiência renal aguda (IRA) após cirurgia cardíaca tem uma incidência de 3.5-31% sendo uma complicação comumente diagnosticada no pós-operatório.
O problema em torno do desenvolvimento de IRA após cirurgia cardiovascular é a sua forte associação com o aumento do risco de morte. A identificação dos fatores de risco relacionados a lesão renal aguda é importante para traçar estratégias de cuidado (nefroproteção ou terapia de substituição renal) no intra-operatório e no pós-operatório.
Numa tentativa de "avaliar os fatores de risco e o impacto dessa complicação na mortalidade e sobrevida após cirurgia cardíaca em pacientes sem doença renal crônica", Ramos KA, et al. realizaram uma análise retrospectiva em pacientes submetidos a cirurgia de revascularização do miocárdio, troca valvar (única ou múltipla) ou ambas. Os preditores independentes que se associaram com IRA nesse estudo foram:
Idade
Muito provável que os pacientes mais velhos tenham uma “reserva glomerular” menor e, portanto, sendo mais susceptíveis a lesões e disfunção renal quando expostos a hipoperfusão.
Substituição valvar
O estudo sugere que a cirurgia valvar tem uma maior taxa de instabilidade hemodinâmica no pós-operatório devido a maior necessidade de uso de drogas vasoativas (DVA) nos pacientes que realizaram esse tipo de procedimento.
Uso de drogas vasoativas no pós-operatório.
A relação íntima de DVA com IRA está relacionado a instabilidade hemodinâmica e baixo débito que provoca isquemia renal.
Histórico de cirurgia cardíaca prévia
Outros fatores de risco descritos na literatura para o desenvolvimento de IRA após cirurgia cardíaca são:
Tempo de CEC prolongado
Tranfusão sanguínea
Uso de balão intra-aórtico (BIA)
ICC
DPOC
Insuficiência renal crônica
Infarto agudo do miocárdio
Baixo débito
Doença arterial obstrutiva periférica
Hipertensão arterial sistêmica
Reflexão
A IRA após cirurgia cardíaca pode ser apenas uma consequência da falência de outro órgão, o que pode explicar a maior mortalidade e menor sobrevida nesses pacientes.
Devemos lembrar do conceito de síndrome cardiorrenal. Ela vai ocorrer quando houver “qualquer problema agudo ou crônico no coração ou rins que possa resultar em um problema agudo ou crônico no outro". Essa condição se retroalimenta de forma que se não manejarmos precocemente disfunções nesses dois órgãos, o paciente pode rapidamente "afundar" do ponto de vista hemodinâmico e metabólico! Identificando fatores de risco relacionados a disfunção miocárdica ou renal facilita o raciocínio terapêutico prematuro e eficiente.
Observemos que boa parte dos fatores de risco envolvidos no desenvolvimento de IRA não são modificáveis. Portanto, muito do cuidado ao paciente será direcionado ao intra-operatório (redução ao máximo do tempo CEC; trabalhar com pressões mais elevadas durante o Bypass) e pós-operatório (minimizar transfusão sanguínea; desmame precoce de DVA).
Referência:
Ramos KA, Dias CB. Acute Kidney Injury after Cardiac Surgery in Patients Without Chronic Kidney Disease. Braz J Cardiovasc Surg. 2018;33(5):454–461. doi:10.21470/1678-9741-2018-0084
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