O Comprimento da Aorta ascendente é um Fator de Risco para Dissecção?
Fonte da imagem: referência 02.
Na diretriz EACTS/STS 2024 para o diagnóstico e tratamento das doenças da aorta, surge um novo critério que nos ajudam a estratificar o risco em pacientes com aneurismas aórticos. Uma dessas considerações é o comprimento da aorta ascendente. Vamos entender melhor como isso pode influenciar o curso clínico e as decisões terapêuticas.
Imagine a aorta como uma estrada principal que conduz o sangue para o corpo inteiro. Se essa estrada apresenta certas características dimensionais, como um aumento do seu comprimento ou diâmetro, pode sinalizar problemas iminentes.
Figura 18 da diretriz EACTS/STS 2024: Demonstração tomográfica de como medir o comprimento da aorta ascendente. Observem que a linha que realiza a medição segue do anel aórtico até o tronco braquiocefálico, percorrendo um trajeto na linha central do vaso.
Estudos têm destacado que um aumento específico no comprimento da aorta, medido do anel até a origem do tronco braquiocefálico (superior a 11,5 cm), está correlacionado com um risco aumentado de eventos aórticos agudos. Isso inclui condições graves, como a dissecção aórtica.
Figura 19 da diretriz EACTS/STS 2024, apresenta um gráfico da publicação de Wu et al., indicando os pontos (setas pretas) nos quais há um aumento do risco de eventos aórticos. Observa-se que o primeiro ponto de ascensão ocorre em 11,5 cm.
Publicação de Wu et al. no Journal of the American College of Cardiology: esta foi uma das referências que a Diretriz EACTS/STS 2024 utilizou para respaldar o comprimento da aorta ascendente como fator de risco de eventos aórticos.
Mas qual o comprimento da aorta ascendente é mais crucial?
Parece que o segmento da raiz desempenha um papel especialmente significativo. Pesquisas sugerem que o alongamento deste segmento pode ser o componente mais importante na determinação do risco de eventos. Em outras palavras, quanto mais a raiz da aorta estiver alongada, maior é a probabilidade de uma complicações catastróficas.
Essas descobertas têm implicações na prática clínica. Por exemplo, um comprimento da aorta ascendente superior a 110 mm é agora considerado um fator de risco significativo o suficiente para ser ponderado no momento de decidir sobre a intervenção cirúrgica em pacientes com aneurismas aórticos. Esta é uma recomendação classificada como IIa B, o que significa que é uma recomendação com nível intermediário de evidência, mas apoiada, até certo ponto, por consenso de especialistas.
Tabela 13 da diretriz EACTS/STS 2024 sobre diâmetro e comprimento da aorta. Em destaque, a recomendação sobre o comprimento da aorta ascendente.
Como cirurgiões cardiovasculares, é essencial entendermos essas nuances. O conhecimento sobre como avaliar e interpretar as dimensões da aorta nos capacita a identificar pacientes em maior risco e a oferecer-lhes o tratamento adequado no momento adequado.
Ainda há muitas perguntas a serem respondidas, e a pesquisa continua. Mas uma coisa é clara: o comprimento da aorta não é apenas mais uma medida anatômica, mas sim um dos indicadores que pode ajudar da decisão cirúrgica quando interpretado corretamente.
Referências
1.Czerny M, Grabenwo¨ger M, Berger T, Aboyans V, Della Corte A, Chen EP et al. EACTS/STS Guidelines for diagnosing and treating acute and chronic syndromes of the aortic organ. Eur J Cardiothorac Surg 2024; doi:10.1093/ejcts/ezad426.
2. Wu J, Zafar MA, Li Y, Saeyeldin A, Huang Y, Zhao R et al. Ascending aortic length and risk of aortic adverse events: the neglected dimension. J Am Coll Cardiol 2019;74:1883–94.
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